As crises no casamento...

Postado por Resenha Mulher on


A Boneca de crochê:

Um casal que celebrava o 50º aniversário de casamento,não tinha segredos entre si,exceto a caixa de sapatos que a esposa escondia debaixo da cama.Ela concordou em deixar o marido ver o que estava lá dentro.Ao faze-lô ele encontrou duas bonecas de croché e 34.000 euros."Há muitos anos",explicou ela, "a minha mãe disse-me que o segredo para um casamento feliz era não discutir.Pelo contrário,quando me zangasse devia ficar em silêncio e fazer uma boneca de croché."O marido ficou radiante,em 50 anos ela só se zangara 2 vezes."Querida",disse ele,"isso explica as bonecas,mas e os 34.000 euros?"."Ah!",respondeu ela,"esse dinheiro é de todas as bonecas que vendi!"

A jornalista Marta Ferreira do jornal "Dica da Semana" desenvolveu uma reportagem sob o tema "Como Manter um Casamento Saudável" e colocou-me algumas questões. Reproduzo aqui, na íntegra, as minhas respostas.

1. Qual o primeiro sinal de que uma relação pode estar em risco?

Existem alguns sinais que indiciam que uma relação pode estar vulnerável. De um modo geral, estes sinais estão relacionados com a forma como o casal comunica, no entanto, nem sempre é fácil percebê-los. É por isso que quando as dificuldades se enraízam podem dar lugar a sinais mais “evidentes” como o aparecimento de uma terceira pessoa (infidelidade) ou a quebra da sexualidade.

(Quase) todos os casais sabem que o conflito faz parte do casamento. Não são certamente as discussões que fazem com que um casal se divorcie. Em qualquer relação amorosa há períodos de maior tensão, em que as discussões são mais frequentes e os membros do casal se sentem mais afastados. Essas pequenas crises são também oportunidades de mudança e reajustamento. Os casais que aprendem a ceder e a gerir os conflitos tornam-se pessoas emocionalmente mais inteligentes e felizes.

A partir do momento em que as discussões parecem tomar conta do dia-a-dia do casal, sobrepondo-se largamente às conversas positivas, deveria soar o alarme. Não me refiro propriamente a discussões que girem à volta de temas estruturantes, mas antes a discussões que surgem “por tudo e por nada”. A partir do momento em que qualquer gesto ou comportamento é capaz de gerar uma reacção explosiva em pelo menos um dos cônjuges, é sinal de que o casal está a viver uma crise séria. Esta espécie de “arranque” ríspido (em que o início das discussões é intenso e brusco) é, aliás, um sinal evidente da seriedade das dificuldades.

Outro sinal de perigo diz respeito às críticas. Qualquer pessoa terá várias queixas a fazer em relação ao seu cônjuge. Como não há pessoas perfeitas, é legítimo que tenhamos que nos adaptar aos defeitos da pessoa que escolhemos para estar ao nosso lado. Mas isso não quer dizer que não possamos queixar-nos do comportamento do nosso cônjuge. Mesmo os casais felizes criticam-se mutuamente (o que é diferente de fazer uma queixa centrada num comportamento específico). Nos casais em crise a crítica é frequente e acaba por transformar-se num rol de ataques pessoais que minam a relação. Os membros do casal deixam de expressar as suas necessidades e passam a atacar-se constantemente. Por exemplo, é frequente ouvi-los iniciar as suas frases com “TU…” em vez de “EU…”.

Esta escalada leva invariavelmente ao aparecimento de outro sinal de perigo: o desprezo. De facto, à medida que as dificuldades de comunicação se agudizam, os membros do casal deixam de se preocupar com o respeito mútuo e enveredam por um caminho muito perigoso, marcado por expressões sarcásticas que são muitas vezes descritas como piadas inofensivas. Mas existe uma diferença muito grande entre o humor (com que ambos se riem) e o sarcasmo (que é normalmente usado para atingir o cônjuge).

A postura defensiva constitui outro importante sinal de que a relação atravessa dificuldades sérias e é caracterizada por uma espécie de braço-de-ferro em que nenhum dos membros do casal parece ceder ou ser capaz de reconhecer que errou. Os pedidos de desculpa tornam-se cada vez mais raros e as tentativas de reconciliação terminam invariavelmente em amuos ou mais discussões. Escusado será dizer que quando a escalada atinge este nível o ambiente familiar torna-se insuportável.

Não raras vezes um dos membros do casal acaba por fechar-se sobre si próprio e o isolamento acaba por ser a resposta mais frequente a qualquer crítica ou tentativa de iniciar uma discussão. Este sinal de perigo é mais comum nos casais que já estão juntos há muito tempo e constitui um comportamento tipicamente masculino – quanto mais a mulher “barafusta”, mais o marido “enterra” a cara no jornal, por exemplo.

2. Esses sinais podem aparecer a qualquer momento, ou são mais frequentes em relações mais longas?

Os sinais de perigo descritos antes podem aparecer em qualquer fase do ciclo de vida. No entanto, o avanço da escalada até ao aparecimento da postura defensiva e do isolamento são mais comuns nas relações mais longas. Além disso, é possível identificar outros padrões: por exemplo, quando um casal jovem enfrenta uma crise conjugal séria, a palavra divórcio vem muitas vezes à tona. Quanto maior for a intensidade dos problemas, maior a frequência das ameaças, o que acaba, invariavelmente, por desgastar a relação. Nos casamentos mais antigos a crise conjugal acaba por repercutir-se de forma visível nas manifestações físicas de amor romântico. Quanto maior for o afastamento entre os membros do casal, menor será a frequência dos mimos. Nalguns casos, o comportamento “público” dos casais não indicia sequer que se trata de uma relação amorosa – não trocam carinhos, não dão as mãos, etc.

3. Existe alguma "receita" para ter um casamento feliz e "para toda a vida"? Se sim, qual?

Apesar de não existir propriamente uma receita, a verdade é que existem alguns pilares que são comuns à generalidade dos casais que estão juntos há muito tempo e que se sentem felizes com a sua relação conjugal. Estas pessoas não têm mais qualidades nem menos defeitos do que as outras. Aquilo que diferencia as suas relações tem um nome pouco romântico: amizade. É verdade! Os casais felizes e satisfeitos investem activa e sistematicamente na consolidação da sua amizade. Como? Investindo no conhecimento mútuo, por exemplo. Conhecer, compreender e aceitar o nosso cônjuge é um desafio para a vida toda, que implica olhar para o passado, identificar vulnerabilidades e geri-las com inteligência emocional, mas também implica estar atento ao presente através de actualizações sistemáticas. Não basta conhecer o percurso do cônjuge, é preciso saber aquilo de que ele(a) gosta hoje, conhecer as suas preocupações, os seus sonhos. Ora, esse conhecimento depende do diálogo franco, aberto e regular. Os casais mais felizes conversam todos os dias sobre o “mundo” de cada um. Isso não significa que se massacrem diariamente ou que façam um do outro o respectivo “saco de pancada”. Significa, isso sim, que têm a paciência para se ouvirem mutuamente e que se esforçam para funcionar como uma verdadeira união.

Por outro lado, estes casais admiram-se mutuamente e expressam de forma clara essa admiração. Em vez de se deixarem contagiar pelos pensamentos mais negativos do cônjuge, fazem questão de salientar aquilo que cada um tem de melhor. Isso implica estar presente nos piores momentos, dar apoio emocional antes de criticar, funcionar como uma equipa, elogiar de forma sincera e regular.

Ceder é, para estes casais, a palavra de ordem. Sejamos francos: nem todas as pessoas “foram feitas” para estar casadas. Nem todas as pessoas têm estofo ou paciência para se deixarem influenciar pelo seu cônjuge. Ora, esta é uma competência fundamental para quem queira estar casado. E os casais mais antigos sabem-no bem. Abdicam muitas vezes daquilo em que acreditam em nome de um bem comum. O braço-de-ferro dá lugar à negociação e à noção de que, para que o casamento seja bem-sucedido não se pode “ganhar” sempre. Isso implica que haja um projecto comum. A relação não anda à deriva, nem os membros do casal procuram viver um dia de cada vez. Existem sonhos que são partilhados e alimentados. Existe a perspectiva de futuro, daquilo que se quer construir.

4. Podemos afirmar que existem casamentos "perfeitos"? Se sim, o que é que podemos entender por "casamentos perfeitos"?

Não existem casamentos perfeitos, do mesmo modo que não existem pessoas perfeitas. Todas as relações têm falhas e problemas. Além disso, mesmo nas relações em que os dois membros do casal se sentem satisfeitos há períodos de maior harmonia e períodos de maior afastamento, como referi antes. O ciclo de vida de um casal é repleto de obstáculos e de acidentes de percurso que colocam a relação à prova. A força destas crises debate-se com a força da relação. Se os pilares estiverem consolidados, é provável que o casal saia fortalecido de cada dificuldade. Mas se o casal não tiver investido nas bases que descrevi antes, qualquer problemazinho pode levá-los à ruptura.

5. O amor, mesmo que muito forte, é suficiente para que um casamento possa durar "para sempre", ou há outros factores que não podem ser descurados?

Poderia dizer que quem ama de forma inteligente tem maiores probabilidades de ser bem-sucedido no casamento. No fundo, amar alguém é muito mais do que sentirmo-nos apaixonados. Há muitos casais que admitem que se amam, apesar de não serem capazes de construir uma relação. Há até quem se divorcie apesar de ainda amar. Então, como escrevi há uns anos, “É preciso reconhecer que se ama e que se quer continuar a amar”.

6. Que repercussões é que esta época de crise que vivemos actualmente pode ter nas relações a dois?

Os factores externos podem ser amplamente desestabilizadores para uma relação conjugal. As dificuldades financeiras e o desemprego não entram no “pacote” dos sonhos de nenhum casal e dão quase sempre origem a desentendimentos e tensão. Esses são obstáculos que podem funcionar como verdadeiros testes à força de um casamento. De um modo geral, quando os membros do casal se voltam “para dentro” da sua relação e quando decidem enfrentar as dificuldades juntos (usando as competências que referi atrás), a relação acaba por sair fortalecida.

7. Em que medida é que a terapia familiar e conjugal pode ser importante para prevenir os períodos de crise e ajudar a ultrapassá-los?

A Terapia Familiar e Conjugal permite que os casais possam pedir ajuda externa a partir do momento em que alguns sinais de alarme surgem e/ou a partir do momento em que deixam de se sentir capazes de gerir as suas dificuldades sozinhos. Não fará sentido que alguém corra para um consultório de Psicologia depois de uma discussão conjugal, nem sequer porque está a atravessar um período complicado mas perfeitamente contextualizado. Por exemplo, se os membros do casal começarem a discutir frequentemente depois de um deles ter perdido o emprego, não há, à partida, motivos para pedir ajuda especializada. É preciso tempo para que as famílias se reajustem às mudanças e até é saudável que do conflito possam surgir novas competências. Quando as discussões ou o mal-estar se prolongam por semanas ou meses e/ou não há motivos identificados para o afastamento, vale a pena parar para equacionar a hipótese de recorrer à Terapia.

Fonte:www.acores.com

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